Em busca do pinhão perdido

5h de viagem para achar pinhão na beira da estrada do PR

A vida é feita de loucuras. Pequenas, grandes, mas sair da sua frequência cotidiana é fundamental para não enlouquecer. O paradoxo está justamente na loucura que é viver uma vida de rotina apenas pelo cumprimento de tarefas, sem buscar coisas dissonantes que nos levem a outras sensações, sentimentos, momentos etc.

A nossa pequena loucura foi pegar o carro e sair “on the road” (Oi, Kerouac) até o Paraná para comprar pinhão direto da fonte. Era uma vontade rememorada em conversas há meses, algo como uma busca por ar respirável fora da bolha massacrante do cotidiano pandêmico. Pouco, muito pouco, mas já alguma coisa. Não cogitamos pousar em lugar algum por um simples motivo: a pandemia está em níveis altíssimos e a Patrícia ainda não completou seu esquema vacinal. Não dá pra bobear em ambientes fechados, sem ventilação, com estranhos.

E após conversas, a decisão veio no meio de semana, empurrada por uma avalanche de merda que parece não ter fim no Brasil, que acaba afetando até os núcleos mais próximos. E assim partimos, às 7h30 de um sábado chuvoso e friorento, sem imaginar como seria uma loucura dirigir sei lá quantas horas, “bater a mão numa parede” como em brincadeiras infantis e voltar.  

Vale do Ribeira: banana, neblina, morros e muito verde

Mas foi apenas no caminho que as coisas se revelaram uma loucura de fato. O tempo fechado do Litoral Sul se transformou em uma mini tempestade a partir do Vale do Ribeira, com chuva demais e visibilidade de menos. E caminhões, muitos caminhões enormes se digladiando com a gente, mudando de faixa a todo o momento para nos ultrapassar e a outros caminhões, também gigantes.

A primeira parada, com 1h30 de viagem, foi no já tradicional quiosque do palmito para adquirir provisões baratas e mais saborosas que as vendidas no mercado, na altura de Juquiá. Eu prefiro o palmito de pupunha, produzido em São Paulo, do que o de açaí extraído no Pará e, inexplicavelmente, vendido na maioria dos impessoais atacarejos da Baixada Santista – e provavelmente aí na sua cidade também. A velha banana chips também foi pra sacola, assim como uma pinga de Juquiá com gengibre e mel (coisa da Patrícia, vale dizer) e um patê de pimenta biquinho, na vã tentativa de sentir o sabor de uma pasta de pimenta biquinho adquirida numa viagem a Paraty – já experimentei e, infelizmente, não é a mesma coisa.

Minha parada favorita!

Depois, mais estrada. Mais chuva. E um frio muito pior do que estava no litoral, evidenciando que a roupa escolhida fora pouca, ainda que bem quente. E uma nova venda insana dissipada de nossos olhos: uma sequência de acidentes que deu vontade de parar tudo e voltar para casa. Ao longo de toda a viagem,a maioria no trajeto de ida, vimos seis acidentes. E foi de tudo: caminhão contra um barranco, caminhão e carro no vão central, automóvel de ponta a cabeça no meio da pista. Não à toa a Régis Bittencourt é conhecida até hoje como a “Rodovia da Morte”.

Mas, apesar dos acidentes, da chuva intensa em vários momentos e do frio dos diabos, seguimos, avançando pelo tortuoso e sinuoso trecho da BR-116 na Barra do Turvo, um pedaço da viagem repleto de curvas, serras, fiscalização eletrônica (alto risco de acidentes, as placas berram em amarelo marca texto) que leva um tedioso tempo para ser concluído.

A segunda parada foi em Antonina, já em território paranaense, num posto de gasolina com lanchonete, aqueles raiz, com café bom a 2 reais, não os Graal caros e insípidos da vida – paramos numa parada fresca na volta, nem era Graal, e a coxinha era 9 reais, desistimos. A atração desse lugar raiz é um monte de maritacas que ficam na janela cantando e recebendo comida dos viajantes. Mas dessa vez, com uma surpresa: o dono do lugar fez um comedouro suspenso do lado externo, o que atraiu vários outros pássaros, das cores mais belas e que eu nunca vi na vida. E lá se foi quase meia hora tirando fotos e admirando os amigos de penas coloridas.

Momento fofura da viagem

Um café para esquentar, um banheiro para se aliviar e lá vamos nós. Uma certa angústia nos acometeu, pois a medida que entrávamos na terra das araucárias (e eu apanhei horrores para achar uma fotografável do carro, parece que estão rareando), a chuva indicava que não iria dar trégua, o que diminuía e muito a chance de encontrar um vendedor de beira de estrada com sua panela de pinhão à lenha e sacos com quilos do alimento. E assim foi: Campina Grande do Sul, Quatro Barras, Piraquara, umas duas entradas para Curitiba e… nada. Chegamos a avistar pinhão, sem muita certeza, no outro sentido da via e pensamos: se não achar mais perto de Curitiba, a gente volta e pega de lá mesmo. Eu tinha medo de já encontrar fechado, devido ao tanto que chovia.

Quando avistamos mais um retorno, decidimos voltar para casa. Foi quando vi há uns 100 metros à frente um carro no acostamento, uma tenda laranja e uma kombi. Soltei: “acho que tem pinhão ali”. Ao que a Patrícia parou o carro já no retorno, virou e foi até o nosso El Dorado daquele sábado de outono. O senhorzinho foi nos buscar de guarda-sol no carro e nos ofereceu pinhão e café quentinhos. Nos sentimos recompensados após horas e horas na estrada. Perguntamos o motivo de só encontrá-lo ali, embora a gente já imaginasse. “É a chuva, quando está assim ninguém vem. Minha mulher mesmo brigou comigo: ‘vai fazer o que lá?’”. Ainda bem que ele foi. Levamos dois sacões de pinhão, um de bergamota (mexerica, para os paulistas) e saímos felizes em busca de um novo retorno para casa.  

Apesar de toda a chuva e frio, valeu a pena!

Na volta, uma paradinha na divisa para comprar queijo colonial e salame produzidos e vendidos na própria casa da Irmã Ivone, uma senhora bem simpática. Ainda tomamos café em outra vendinha-casa de vendedora também simpática e vimos mais passarinhos comerem banana, nos cachos vendidos aos montes por todo o trajeto.

Enfim, um total de 11 horas de viagem, praticamente ininterruptas, finalizadas com neblina, chuva e escuridão no trechinho de pista de faixa única entre Pedro de Toledo e Peruíbe, uma escuridão obliterada por alguns motoristas desgraçados que insistiram em não desligar seus faróis altos ao passarem por nós. Para deixar bem clara a loucura em que nos metemos.

Pinhão vende no mercado, você vai dizer. Sim, ainda que bem mais caro do que na fonte. Mas todo o resto não. Menos ainda a experiência, a vivência, o contato que nos faz sentir vivos e livres. E isso, após um ano e meio enfiado dentro de casa, apenas saindo para trabalhar e me expor ao vírus, governados por uma turba genocida, já é um imenso bálsamo.

Represa de Capivari serpenteia a BR-116 no PR

Drops da pandemia – 09

E aí, como está a pandemia na sua cidade? No Estado de São Paulo nem baixaram direito as taxas de internação, mortos e casos e reabriram tudo, acreditando que as pessoas vão seguir todos os protocolos que não garantem nada. Aqui na Baixada a praia encheu, as máscaras voltaram a rarear e tudo parece voltar ao normal, enquanto vivemos um platô de quase 3 mil mortes diárias no país e quase mil no Estado. Ah, mas as internações estão baixando…

UTI para tirar o c* da reta dos gestores

Sim, e é por isso que começo com as mortes por erro de profissionais de saúde nas UTIs, reportagem do Intercept. O aumento avassalador de casos levou os gestores a adotarem a estratégia única de criar leitos aos montes, muitos sem medicamentos em boa quantidade, outros sem profissionais totalmente qualificados para este desafio. Os relatos dos profissionais de saúde na matéria são chocantes e escancaram na nossa fuça que as pessoas estão sendo levadas aos hospitais para morrerem diante de uma saúde totalmente em colapso.

Então, quando tu comemora uma queda de internação, é bem provável que tenha ocorrido pela morte de vários pacientes e não pela alta hospitalar deles. E se hoje estamos em SP abaixo dos 80% de internações, não é necessariamente referente à quantidade de UTIs que tínhamos antes desta nova onda, mas sim diante de um número bem alto de leitos.

Logo, a situação permanece caótica, por mais que vendam boas notícias a cada coletiva ou a cada divulgação de dados em matérias de TV, enquanto te mandam para o transporte público cheio com uma máscara de pano surrada e caindo do nariz toda hora (use máscara PFF2). Para ir além deste drops indico postagem anterior que fiz aqui no blog com outros links que evidenciam que abrir UTIs não é a melhor estratégia no combate à covid-19.

Araraquara: a saída para combater o vírus que ninguém quer tomar

A saída: testagem em massa, RASTREIO (que praticamente ninguém adotou no Brasil), testes aleatórios, isolamento imediato de infectados e lockdown em áreas específicas para controlar a transmissão – cientistas cansaram de falar. Sabe onde fizeram isso? Em Araraquara, como aprofunda esta reportagem da Folha, aqui republicada pelo Valor.

E ao contrário da mídia hegemônica, vamos destacar o trabalho do prefeito Edinho Silva, do PT, que bancou medidas realmente restritivas, mesmo sob ameaças de morte e narizes tortos. O que não faz uma boa equipe de políticas públicas também, não é mesmo? Não basta uma pessoa só, é preciso um time que saiba o que está fazendo, que é exatamente o oposto do que vemos no Planalto, um bando de burros e incompetentes da coisa pública, atuando diuturnamente a favor do vírus, travando programas, retendo recursos, impedindo que as coisas sejam feitas.

Quem quiser saber mais sobre o que foi feito em Araraquara, ouça o Anticast com o prefeito Edinho Silva. Bela entrevista.

Menos vacinas vem por aí; o vírus agradece

A incompetência e a inércia do governo federal, que escalou os piores dos piores para não gerir coisa alguma nessa pandemia, mais uma vez salta aos olhos. O Ministério da Saúde retirou 30 milhões de doses de vacina contra a covid-19 da previsão de entrega. Um total de 20 milhões de doses da Covaxin, que não foi aprovada pela Anvisa e que tem vários problemas na sua produção na Índia, além de 10 milhões da russa Sputnik V, que tem aprovação emperrada na Avisa.

Aliás, a agência reguladora irá avaliar nesta segunda-feira (26) um pedido de vários Estados, que já fecharam negócios com os russos para comprar essa vacina, após decisão do STF cobrando maior celeridade diante do grave quadro em que estamos. Meio óbvio, né? Mas não para a Anvisa. Realmente as coisas ficam mais difíceis com um presidente atuando fortemente a favor do vírus, dificultando quaisquer medidas de isolamento, atacando o uso de máscara, atrasando e impedindo a compra de insumos, medicamentos de internação, vacinas. Difícil imaginar mudança de quadro na saúde brasileira com esse cidadão na cadeira presidencial. SE o Brasil superar isso será APESAR dele e daqueles que o mantém ali.

Voltando à reportagem, é importante lê-la para ver como o próprio governo tem atuado contra as vacinas, dificultando processos ao invés de facilitá-los. Quer outro exemplo? Bem, a Fiocruz acertou com a Astrazeneca a transferência de tecnologia para fabricar o insumo e fazer a própria vacina no Brasil, certo? Errado! Anunciaram, mas não tem contrato assinado, nem cronograma de produção, nem nada aprovado na Anvisa, como mostra esta reportagem da Folha. E o texto ainda evidencia a lentidão na gestão desse processo e o quanto isso pode impactar na entrega de vacinas. Já há projeção para apagão de vacinas no segundo semestre, quando se achava que a situação estaria resolvida devido aos vários anúncios de compras de vacinas. Com esses cancelamentos, nem se sabe se teremos vacinas para todos em 2021. Muito provavelmente não. É um escárnio absoluto.

Dica de leitura – “Estamos definhando”

Por fim trago esta dica de leitura fundamental que aborda a saúde mental na pandemia. Um psicólogo tenta traduzir o que estamos sentindo em meio a esse purgatório sem fim. O texto é do New York Times e foi traduzido pelo Globo. Não estamos em depressão, mas seguimos meio zumbis em alguns momentos, não é mesmo? Fazemos as coisas meio no automático, sem muita concentração, sem muito ânimo, nem perspectiva… São sinais de um estado de definhamento, palavra escolhida pelo especialista para tentar mensurar nossos sentimentos em meio a tudo isso. Um problemão, pois esse estado pode avançar para outros transtornos. E nem sempre percebemos! Mas me vi muitas vezes ali no texto e acho que vale a leitura, ao menos para refletirmos a respeito. Bom domingo a todos. Fiquem vivos!

Drops da pandemia – 08

Hoje é monotemático, pois o anúncio do governo de SP me irritou profundamente. Mas acabo tratando de inúmeras questões correlatas no meio de tudo isso. Vem comigo!

Fase vermelha com bolinhas amarelas

Difícil se chocar com algo depois de um ano e dois meses de pandemia, mas a condução disso pelo Estado de São Paulo é de perder as esperanças. Criaram a Fase Emergencial porque os casos estavam explodindo. E agora que os casos apontam uma redução, que ainda não votou aos patamares anteriores à Fase Emergencial (e seguem os números absurdos de mortes), criaram esse disparate de Fase de Transição que nada mais é do que uma fase vermelha com bolinhas amarelas, como a digníssima Patrícia viu nas redes sociais.

No Plano São Paulo foram mantidas questões como toque de recolher das 20h às 5h (vírus tira folga em horário comercial), teletrabalho e escalonamento das empresas (que quase ninguém segue, pois é só uma recomendação), mas anunciaram a abertura do comércio para este domingo (18) e a realização de missas e cultos religiosos. Tudo, claro, cumprindo todos os protocolos (e cada vez que ouço essa palavra me dá urticária) e com restrição para a presença de apenas 25% da capacidade do local, o que não é uma obrigação, nem passível de fiscalização ou multa, é apenas mais uma recomendação, ou “voto de confiança”, como foi dito e repetido pelos gestores na entrevista coletiva de sexta-feira (16). Sem falar que, a partir do dia 24, restaurantes, salões de beleza e academias também estarão liberados. Enfim, uma fase vermelha alaranjada. Não à toa, os jornalistas que fizeram perguntas focadas no Plano SP deixaram evidente a confusão e a falta de coerência das novas medidas.

O coordenador-executivo do Centro de Contingência da Covid-19, João Gabbardo, justificou dizendo basicamente que ou era isso, mantendo uma uniformidade no Estado, ou cada região iria para o cada um por si e o covid-19 para todos. Vale colocar as aspas dele aqui: “Se nós não tivéssemos criado essa fase de transição, algumas regiões estariam passando para a laranja, provavelmente a Grande São Paulo. O governo entendeu que essa passagem para a fase laranja tinha um risco maior”, explicou.

Aí, qual não foi a minha surpresa que, à tarde, Santos anunciou a abertura de restaurantes, academias e salões de beleza já para este domingo (18) e não para a semana seguinte, como preconiza o Plano São Paulo. Se Santos, que estava bem alinhada com o Estado fez isso, imagino cidades do interior com prefeitos negacionistas o que deverão fazer.

Em entrevista à TV Tribuna à noite, o prefeito santista Rogério Santos confirmou as medidas, justificou que os números estão menores na cidade e declarou que os quiosques e até mesmo os bares estão inclusos nessa liberação (segmento que segue proibido de funcionar pelo Estado) e que a ocupação vai ser de até 30% e não 25%, como indica o plano. E ainda o representante dos bares, restaurantes e hotéis de Santos reclamou, achou pouca a liberação… Num take seguinte, em VT, o secretário de saúde de Santos, Adriano Catapreta, falou que os números da pandemia na cidade seguem preocupantes e que é preciso cuidado. Gostaram desse exemplo rápido de como é insano viver nesse país?

O fato é que toda a cantilena defendida pelos secretários e vice-governador Rodrigo Garcia (João Doria tem evitado se expor muito e ficado mais para anunciar as “boas notícias”) na coletiva durou pouquíssimo tempo. O voto de confiança teve prazo expirado, cada cidade vai fazer o que achar melhor porque simplesmente ninguém aguenta mais a pandemia e está desesperada para ir às ruas comprar uma calça, cortar um cabelo, tomar um suco na praça de alimentação do shopping e, de lambuja, levar o covid para casa. A gente sabe que não é bem isso, tem interesses financeiros diversos por trás dessas decisões, o que só fortalece a visão de que o Brasil tá cagando para o brasileiro. Ou que não existe um Brasil, existe o bom e velho “farinha é pouca, meu pirão primeiro”.

Já faz tempo que a estratégia de libera, restringe se evidenciou errada. Não porque não se deva restringir, mas porque nunca houve restrição de fato. Lockdown então só conhecemos a palavra, porque seu significado foi esvaziado em inglês e em português, tendo sido distorcido para atender aos ensejos dos negacionistas canalhas que pregam pela abertura e livre circulação do vírus. Mas os números e a pandemia evidenciam todos os dias que essa estratégia só levou à morte e à dor. Por outro lado, fechar meia boca não impacta profundamente nos números, fazendo com que a reabertura seja apenas um breve paliativo para “fechar” novamente e irritar ainda mais as pessoas, comerciantes etc.

Enfim, no meio disso tudo fica a população, tendo que escolher entre morrer de fome ou de vírus, sem orientação e organização federal, que está mais preocupado em inaugurar metro de estrada, em falar merda em live e em se preocupar com eleição e se manter no poder. Em âmbito estadual e municipal as pessoas acabam vítimas dos lobbys empresariais. Enquanto isso, muita gente lucra com a morte e a miséria.

Mas deixa eu ir embora porque agora dá pra tomar um choppinho de frente pro mar em Santos e eu tô indo pra lá agora. Quem sabe pego o shopping aberto pra comprar umas coisas e cortar o cabelo, que está gigantesco. Mas, claro, seguindo toooooooooooooooooooooooodooooossssssssssssss os protocooooolosssssssssssssss.

Drops da pandemia – 07

Após alguns dias, cá estou de volta tentando absorver essa loucura desse umbral na Terra chamado Brasil. Vamos lá.

Uma escuridão sem fim…

Vivemos realmente em um período de trevas. Essa história de que uma médica receitou hidroxicloroquina nebulizada a pacientes em Manaus é um negócio absurdo demais. Imagina você, que acabou de parir um filho, permanecer internada por covid-19 e receber de um médico um tratamento milagroso (mas experimental) para combater a doença, bastando assinar um termo bem vagabundo e gravar um vídeo? Tempos depois, você morre, mas o seu vídeo fica circulando por aí, com ente público lambe-botas divulgando como se fosse válido. Sim, a mulher morreu depois de ter recebido tratamento com essa merda, mas os malucos, puxa-sacos e cruéis fãs desse governo messiânico dos diabos ficam compartilhando essa desgraça aos quatro cantos. E a matéria ainda traz relatos de outras mortes após esse teste letal.

E o Conselho Federal de Medicina defende a tal autonomia do médico, mesmo que a autonomia seja pra receitar remédio que não ajuda a combater o vírus. Mesmo que seja para levar à morte milhares de brasileiros. Parece projeto para desacreditar os médicos e, por conseguinte, qualquer tipo de ciência e conhecimento, haja vista a luta insana pras aulas voltarem, numa espécie de cruzada contra a existência dos professores.

E, claro, tudo defendido pelo “médico” Jair Bolsonaro, favorável ao tratamento precoce, que nada mais é do que enfiar na goela do brasileiro remédios comprovadamente ineficazes no combate ao coronavírus. Só faço uma pergunta: quem está ganhando dinheiro divulgando/receitando remédio ineficaz para o tratamento da covid? Enfim, os crimes se abundam de todos os lados. Se essa gente não for pra cadeia e logo, esse país não verá a luz nunca mais.

General da ativa no banco dos réus?

E já que estamos falando de Manaus, o Ministério Público Federal entrou com uma ação de improbidade administrativa contra o ex-ministro Eduardo Pazuello e o secretário estadual da Saúde do Amazonas, Marcellus Campelo, em decorrência do caos sanitário que o Estado viveu na virada do ano com a ausência de oxigênio e o aumento de casos e mortes na chamada segunda onda na região. É isso que precisa acontecer. Esses desgraçados precisam ser responsabilizados pelo que fizeram e deixaram de fazer. Não pode haver anistia para isso.

Lembrando que Pazuello, aquele cara que manjava de logística e mandou vacina pro Estado errado, é general da ativa, logo, a responsabilidade de tudo que está acontecendo no Brasil também deve ser creditada às Forças Armadas, tal e qual o Intercept já demonstrou em texto indicado aqui recentemente.

UTI para morrer

Lockdown com suporte financeiro para a população ter como ficar em casa? Não.

Vacinação em massa para agilizar a imunização das pessoas? Não.

O que fazer? Abrir leitos e torcer. Resultado: mortes explodem.

Vários e vários especialistas já disseram que se não restringir a circulação de pessoas, o vírus não irá parar de circular por aí. Não é questão de opinião, é estudo, é técnico, é científico. Quer um exemplo? Bastou um trabalho jornalístico para apurar que, entre 14 de fevereiro e 13 de março, mais da metade de quem foi removido para a UTI morreu no estado de São Paulo.

Ou seja, fazer a abertura de novos leitos, sem toda a estrutura, sem profissionais, ou com funcionários atuando sem treinamento adequado, ajuda a elevar a taxa de mortalidade em UTI. Não precisa acreditar em mim, basta ler a reportagem da alemã DW, que aborda justamente o impacto no número de mortes ao abrir leitos de UTI de maneira improvisada.

Apesar do genocida-mor jogar contra a pandemia desde o princípio, o Brasil, como um todo, não tratou o problema da forma correta, preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela grandessíssima maioria dos médicos e estudiosos brasileiros. E seguimos fazendo errado: sem testagem em massa, sem rastreio de contato, sem isolamento, sem vacinação em massa, mas com cloroquina, desrespeito à ciência e apoio cego ao negacionismo e a ídolos de barro, vamos demorar e muito para sair desse purgatório.

Vacina sem Anvisa pode dar ruim

Queremos vacinas e queremos rápido. Mas não de qualquer jeito, não é? Então leia esse breve texto que conta com palavras do fundador da Anvisa, o sanitarista Gonzalo Vecina Neto. Nele o médico critica o projeto de lei aprovado no Senado que permite a importação de vacinas não aprovadas pela Anvisa. Segundo ele, trata-se de um procedimento perigoso, pois pode fugir do controle de qualidade criado pela agência brasileira que é uma das mais avançadas do mundo. E ele cita o exemplo de indústrias na Índia sem nenhum cuidado, incluindo a que produz a Covaxin, que o governo brasileiro comprou e a Anvisa vetou após visitar a fábrica na Ásia.

“A Anvisa foi lá fazer inspeção na Barak Biontech e ela foi reprovada por causa de itens básicos do tipo processos de esterilização mal conduzidos, verificação da potência da vacina mal conduzida, coisas muito primárias”, disse Gonzalo Vecina Neto ao colunista Chico Alves, no UOL.

Às vezes parece que a demora em analisar alguns pedidos passam do ponto por parte da Anvisa, dando a especular uma certa interferência externa nos processos decisórios da entidade – vide a vacina Sputnik, sob impasse no momento. Mas é preciso rigor e não será aprovando e importando numa canetada, sem controle, que a pandemia será enfrentada de forma correta.

Drops da pandemia – 06

A gente tenta se anestesiar com futebol, música, comida, bebida, mas tem horas que é difícil. Por isso, cá estamos com mais um Drops da pandemia, para tentar compreender o que tá acontecendo nesse ex-Brasil varonil.

Desigualdade vacinal

A matéria do ótimo pessoal da Agência Mural na Folha sobre o ritmo de vacinação desigual na Grande SP mostra que a desigualdade é um elemento presente em TODOS os momentos. Se nos bairros mais pobres da capital paulista ocorrem mais mortes por covid do que em bairros mais ricos, em municípios mais abastados, como São Caetano, há mais vacinados e, proporcionalmente, mais doses, em comparação, por exemplo, com o pobre município de Itaquaquecetuba. Enquanto 20% dos munícipes de São Caetano haviam recebido a primeira dose, os de Itaquá haviam recebido somente 5%. O texto mostra outros exemplos de municípios em desigualdade vacinal, um dado preocupante e que deve ser cobrado de parte a parte.

As prefeituras devem cobrar doses proporcionais e o Estado e a população devem cobrar que as doses sejam aplicadas e maior isonomia no fornecimento de informações. Não pode ocorrer o que é citado no texto, uma trabalhadora da saúde que ainda não foi vacinada. Já ouvi relatos de idosos que perderam a abertura da faixa etária e, ao buscarem depois a vacinação, foram barrados. Essa matéria do G1 Santos mostra um caso desses em Mongaguá, em que a senhora só foi vacinada porque o filho é advogado e buscou diversos caminhos para fazer valer o direito de sua mãe.

Mas a verdade é que se tivéssemos vacinas em abundância não estaríamos vivenciando esse problema. E a culpa a gente sabe de quem é por estarmos patinando numa das coisas que o SUS mais sabe fazer que é vacinar pessoas.

Coronavac é eficaz, sim!

A biomédica e neurocientista Mellanie Fontes-Dutra fez um fio no twitter muito bom e fácil de entender sobre os estudos que comprovam a eficácia da Coronavac, após a publicação do prepint da pesquisa, que reúne dados sobre a fase 3 da vacina sino-brasileira. Como já havia sido divulgado, a Coronavac também é eficaz contra as variantes P1 e P2.

E o mais bacana é que a pesquisa foi feita com o intervalo vacinal de 14 dias, indicando que a eficácia (de 50,7% nesse esquema) seria maior no intervalo entre as doses acima de 21 dias, justamente a média que muitos têm sido vacinados. Vale lembrar que a sugestão do Butantan é de intervalo das duas doses de 14 a até 28 dias. Sim à Ciência! Sim à vida!

Cores, mapas e nada mais…

Na sexta-feira (09) o governo de SP avançou o Estado da fase emergencial para a vermelha, mas incorporando algumas coisas da etapa mais restritiva, caso do toque de recolher, que está mantido no Estado. Liberaram o futebol, porque o show tem que continuar, né? E bota time pra jogar dia sim, dia não, porque só o que importa é o dinheiro.

Voltando ao Plano São Paulo, houve umas mudanças no comércio que geraram dúvidas nos jornalistas que estavam na coletiva e confusão entre os gestores públicos (faltou uma melhor comunicação, creio eu). A justificativa para a mudança de fasea seria uma melhora nos índices de internações e casos, que estariam caindo. Mas aí eu li a reportagem com visões de especialistas criticando o relaxamento das restrições, justamente devido à alta taxa de ocupação de UTIs que está na mesma faixa pré-fase emergencial.

Enfim, mais uma vez a economia ganha das vidas, apesar do discurso ser um tanto quanto distinto. Esse abre e fecha sem resultados claros, desde o início da pandemia, traz muitas dúvidas a este método. E como a gente e a OMS sabem que só vacina não vai adiantar nada, é bem preocupante esse cenário, reforçado pela baixa adesão ao isolamento social, como os dados do governo demonstraram.

Mas aproveito pra elogiar a antecipação da vacinação de 67 anos (para amanhã) e a de professores, iniciada nesse sábado (10), após as críticas colocadas neste blog sobre o atraso na vacinação. O atraso dos insumos é real, o que certamente vai impactar nas entregas, ainda que eles digam o contrário, pois a narrativa não pode ser afetada. Mas o esforço é enorme e graças à Coronavac o Brasil tem alguma vacinação, porque se dependesse do governo federal, bem, vocês sabem. O cara tá lá AINDA defendendo aglomeração, sem máscara, falando em tratamento precoce com medicamento ineficaz pra covid e que pode matar caso seja usado descontroladamente. Tudo isso de forma impune, sem que as “elites” se importem, pois concordam com esse morticínio.

Dica de “leitura” – Freixo sem freios

Mais uma vez vou indicar um podcast, meio de comunicação que tem trazido ótimas contribuições ao debate político. O Lado B do Rio, podcast com um olhar carioca sobre as coisas do Brasil, entrevistou o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL), que soltou o verbo e tratou de diversos temas de forma clara, transparente, sem rodeios. Vale e muito a audição.

Concordo com a visão dele de que não vai bastar ganhar as eleições no voto, diante de um bolsonarismo claramente golpista, insuflando o tempo todo os fãs mais radicais a defenderem a ideologia do caos e da destruição (as marchas fúnebres verde e amarelas pelas ruas neste domingo evidenciam isso). Concordo e me preocupa, porque não sei se conseguiremos derrubar essa ameaça à CF de 1988 e a qualquer possibilidade de dignidade do povo trabalhador só com voto e Justiça. Vamos precisar e muito do povo, das ruas…

A matéria que mostra empresários gaúchos apoiando fortemente ainda esse genocídio, num estado recordista da tragédia, com gestores xingados por eles, ainda que adotem políticas concordantes com o Bolsonaro, dá um pouco do tom do que nos espera agora, amanhã, em 2022 e depois.

Drops da pandemia – 05

A grande notícia desta noite está na suspensão da produção da Coronavac pelo Instituto Butantan, motivada pela falta de matéria-prima. A matéria dada inicialmente pela CNN diz ainda que o Instituto ainda fará uma entrega na semana que vem pois ainda possui 2,5 milhões de doses prontas, aguardando liberação do controle de qualidade.

A notícia pegou todo mundo de surpresa, mas não deveria. Isso porque, a entrevista coletiva do Estado de São Paulo na tarde de hoje (07) já dava alguns sinais de que a fabricação seria paralisada temporariamente. O mais claro deles foi o informe do presidente Dimas Covas de que o IFA, usado na fabricação da vacina sino-brasileira, que estava previsto para chegar ao Brasil esta semana sofreria um atraso e que seria entregue na próxima semana.

Outro item que levantou uma pulga atrás da minha orelha foi o anúncio das novas faixas etárias. A Coordenadora Geral do Programa Estadual e Imunização, Regiane de Paula, informou que a vacinação seria feita com doses da Fiocruz – um anúncio não tão comum especificar qual dose o público irá tomar. Fui no site do governo do Estado de São Paulo e a informação estava lá, confirmada: “O avanço da campanha DEPENDE da chegada das vacinas da Fiocruz ainda nesta semana para êxito no cronograma definido pelo PEI (Plano Estadual de Imunização)”, informa o release (grifo meu). Ou seja, quem tiver 65, 66 e 67 anos será vacinado com a dose da AstraZeneca, produzida pela Fiocruz e não com a Coronavac do Butantan. Até aí, nada demais. Mas os sinais…

O terceiro item que levantou dúvidas foi quanto ao descompasso no início de novas faixas etárias de pessoas para serem vacinadas. O novo anúncio, feito nesta quarta-feira (07), destaca que idosos com 67 anos começarão a ser imunizados a partir do dia 14 e os de 65 e 66 a partir do dia 21. Só que, ao analisar o cronograma de vacinação, a população de 68 anos teve o começo de sua vacinação antecipada para o dia 2 de abril – portanto, um buraco de 12 dias esse início e o seguinte. Esse intervalo é um dos maiores, perdendo apenas para os 15 dias de fevereiro entre o começo da vacinação para o público entre 85 e 89 anos (dia 12) e aquele entre 80 a 84 anos (dia 27), numa época de também escassez de insumos. O período atual também iguala o buraco entre outras duas novas faixas etárias de vacinação, em março.

Mas sabe-se que sempre que possível Doria anuncia a antecipação de vacinações, levando a intervalos de apenas quatro dias (início da vacinação da faixa etária de 72 a 74 e da faixa 75 e 76, por exemplo), sem falar no caso na antecipação da imunização para as forças de segurança, professores e até mesmo a faixa de 68 anos, que começaria na última segunda (05) e foi trazida para a sexta (02).

Sempre que pode isso ocorre, até para o tucano ter boas notícias a oferece. Não à toa ele focou sua presença nas coletivas às quartas, quando se concentram a maior quantidade de notícias positivas. E é bem provável que na próxima sexta-feira (09), quando ocorrer o possível anúncio de prorrogação da fase emergencial do Plano São Paulo, repleta de restrições, irá em seu lugar o vice Rodrigo Garcia, seu escudo de coisa ruim. Também por isso, nada me tira da cabeça que (até pelos sinais demonstrados neste texto) se sabia à tarde da paralisação temporária da fábrica. Mas, como a notícia não era boa, melhor “vazar” no fim da noite, junto com a divulgação de mais de 3.800 mortes no país por causa da covid-19.

O problema é que isso vai provocar um enorme impacto no Plano Nacional de Imunização. Segundo Covas, não há problemas com a China, são apenas questões burocráticas que levaram ao atraso. Pode ser o aumento da demanda atravancando a produção de insumos. Pode ser alguma porcaria que algum membro da famiglicia tenha dito contra os chineses. A questão é que qualquer atraso afeta a já combalida vacinação brasileira – que ainda pode ser destroçada com esse absurdo de liberar compra de vacina por empresas via SUS, criando o fura-fila da vacina, um escárnio ético e moral que só poderia ser produzido no Brasil atual.

Coincidência ou não esse anúncio da suspensão, resolvi passear no Facebook e vi na conta oficial da Prefeitura de Peruíbe o informe da suspensão da vacinação nesta quinta (08) devido à falta de doses. Há também a promessa da chegada de uma nova remessa no mesmo dia, abrindo a possibilidade de agendar segunda dose aos que necessitam da mesma. Pode ser um caso isolado, uma infeliz e curiosa coincidência. Mas isso me faz lembrar a decisão recente do Ministério da Saúde em dispensar a necessidade de as secretarias reservarem a segunda dose da vacina, contando que o Butantan e a Fiocruz iriam manter o cronograma de produção. Deu ruim, muito ruim.

Drops da pandemia – 04

4.195 mortes registradas nesta terça-feira (06), segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS). Sério, pessoal, não tem mais o que fazer, dizer, escrever… Esse país acabou e não há nenhuma perspectiva de que vamos melhorar em um futuro breve.

Por quê? Ora, ora… Por causa disso ===>>> Pouco tempo antes da notícia do recorde de mortes, o UOL estampou em suas redes sociais uma matéria falando de clima geral positivo” do mercado financeiro levou a queda do dólar. Os caras estão cagando se tem gente morrendo, contanto que a bolsa esteja bombando… esse país não pode ser sério. UOL arrumou a merda, mas deixou o “clima geral positivo”, que abria o texto, na legenda da foto. Caras de pau!

Ao mesmo tempo, o Congresso decidiu votar ainda hoje em regime de urgência uma medida para oficializar o fura-fila das vacinas, obrigando o Estado a comprar vacinas para empresas, colocando na frente empresários, funcionários e familiares e deixando para depois os grupos prioritários. Sim, a notícia é surreal, absurda, nem precisa de comentário.

E tem mais, muito mais. Quer mais? Toma!

A Justiça do Rio retirou os professores dos grupos prioritários para a vacina. Num lugar em que as aulas presenciais estão ocorrendo mesmo no meio do agravamento da pandemia. Suspenderam as aulas essa semana, mas a briga jurídica persiste.

Aí tu vê no jornal local feirantes santistas querendo voltar a trabalhar cumprindo protocolos que de nada servem em meio ao aumento da transmissibilidade do vírus. Em outro take, uma mulher na fila da Caixa aliviada porque vai receber 150 reais pra transformar em comida para dar para os três filhos, ainda que lamentando não ter sido contemplada com o auxílio emergencial para mães solo, um pouquinho maior.

E o país, que devia estar comprando vacinas e vacinando as pessoas, promovendo um lockdown com dinheiro e não esmola para as pessoas que estão passando fome, além de ajudar os pequenos empresários, para que desse tempo das vacinas fazerem efeito e evitar mais mortes…. Prefere focar em kit covid que comprovadamente é ineficaz, força as pessoas a irem pra rua com declarações como o “Brasil precisa voltar a trabalhar“, a custo de corpos, mortos, dando espaço para o próximo da fila do exército de reserva de mão de obra trabalhadora que espera, de mão estendida, um alento.

Isso aqui virou um enterro e não dá para achar que vai acabar logo. Ninguém aguenta mais, mas os velórios seguem, a sensação de impotência aumenta, a angústia entorpece e, ao menos hoje, não há futuro.

Tudo o que há nesse país são os versos de Oswald de Andrade estampados no encarte de “A Tempestade”, álbum da Legião Urbana, que ganharam uma nova conexão com a atualidade desgraçada desse ex-país do futuro: “O Brasil é uma República Federativa cheia de árvores e gente dizendo adeus”.

Em horas assim me lembro também dos versos de falsa esperança, melancólicos, doídos, presentes em “Natália”, primeira faixa do álbum citado: “Quando a tristeza é sempre o ponto de partida, quando tudo é solidão. É preciso acreditar num novo dia, na nossa grande geração perdida, nos meninos e meninas, nos trevos de 4 folhas”.

É meio que o último suspiro de tentar acreditar. Afinal:

“A escuridão ainda é pior que essa luz cinza. Mas estamos vivos. Ainda”.

Drops da pandemia – 03

O drops da pandemia faz um catado do que de melhor aconteceu neste feriado pandêmico. E cresce cada vez mais a sensação de que pra sair desse atoleiro fascista só uma grande resposta popular, porque as instituições e a “elite” brasileiras estão tentando levar esse morticínio no “vamo que vamo”, buscando vacina para os seus e deixando o povão morrer dentro dos ônibus.

Igrejas liberadas para espalhar vírus

A História mostra que, em home de Deus, já foram cometidas algumas das maiores atrocidades da humanidade. E eis que parece estarmos vivendo outro desses episódios marcantes (quem imaginou que, avançando os séculos, poderíamos voltar a isso, né?).

O ministro bolsonariano do STF, Kássio Nunes Marques, autorizou, na calada da noite de sábado (03), que as igrejas e templos fossem abertos para espalhar o vírus, digo, para a realização de cultos, missas etc. em todo o país. Tudo para manter funcionando o negócio, em uma analogia semelhante ao comércio, que luta pra manter as portas pra vender seus produtos. Neste caso, o produto é a fé, a salvação ou algum bálsamo em meio a esse caos. Ok, dá pra rezar em casa, mas não dá pra recolher o dízimo, né?

Pastores clamam pelo direito constitucional á professar a fé, mas este fica acima da vida? Então vamos colocar centenas de pessoas em espaços fechados, com ou sem máscara, falando alto, espalhando gotículas pelo ar, em um ambiente altamente propício para a covid-19? O brasileiro realmente jogou nas mãos de Deus para resolver essa parada aí. Já dizia o Eduardo Cunha ao anunciar que votaria pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff: “Que Deus tenha misericórdia dessa nação”. Haja misericórdia.

Feriado não fez cócegas na taxa de isolamento social em SP

Ora, ora, quem poderia imaginar, não é mesmo? Mais uma ação inútil da gestão tucana que se exime da culpa, finge que toma atitudes e joga pra população o ônus de gerir uma pandemia. O Sistema de Monitoramento Inteligente do governo do Estado detectou que o índice de isolamento social permaneceu abaixo dos 45% na semana dos feriados antecipados.

O resultado dessa maravilhosa ação é que quase ninguém parou e os que fizeram acabaram por aglomerar em outras localidades, como o litoral e o interior, propiciando a circulação do vírus por todo o Estado. Realmente não vejo muita diferença entre esse tipo de gestor e Bolsonaro, pois há pouca diferença entre fazer nada e fingir que se está fazendo algo. Mais uma vez o prefeito paulistano honra o sobrenome que tem. Vão faltar covas na maior cidade da América Latina.

Farmacêuticas dizem não às empresas – hahahahahahaha

O Brasil deve ser o único lugar no mundo em que as empresas, e não o governo, tentam comprar vacinas. E até por isso, as farmacêuticas disseram em uníssono um categórico “não”, deixando o livre mercado a ver navios. AstraZeneca, Butantan, Janssen e Pfizer negaram a venda de vacinas contra a covid-19 para as empresas.

A informação foi passada em nota pela Sindusfarma na sexta-feira (02), dizendo que as farmacêuticas seguem critérios internacionais e de interesse coletivo para negociar de maneira exclusiva com governos federais e organismos públicos internacionais, como a OMS. “Nenhuma empresa ou pessoa física está autorizada a negociar em nome dessas fabricantes de vacinas com nenhum ente público ou privado, seja direta ou indiretamente”, detalha a nota.

O jeito é rir dessa resposta, porque é impressionante a capacidade do brasileiro em fazer merda atualmente. Em vez de pressionar os poderes constitucionais a cumprirem a Constituição na aquisição de vacinas e também no cuidado de todos os brasileiros, a iniciativa privada quer criar o camarote da vacina e pôr os seus à frente dos públicos prioritários. Alguém avise essas antas que se não atingirmos uma grande quantidade de pessoas vacinadas (sem falar em máscaras, aumentar o distanciamento etc.), o vírus seguirá circulando e prejudicará até mesmo quem foi vacinado.

Ou seja, na pandemia, não adianta ser individualista, seus mané!

Dica de “Leitura” – Como a AstraZeneca virou a queridinha do Bolsonaro

A dica de leitura de hoje, na verdade, vai ser de audição. Trago o podcast Viracasacas, um trabalho bem legal feito por uns guris mega inteligentes e bacanudos que trata de política, cotidiano, comportamento, cultura e muitas outras coisas.

Quero abordar especialmente o episódio 208, em que eles entrevistam a jornalista e ativista Nathália Urban, correspondente internacional baseada na Escócia. Ela traz algumas questões interessantes que podem ajudar a entender porque a AstraZeneca foi a primeira vacina comprada pelo governo federal, com direito a documentos que provam reunião do laboratório e de outras empresas britânicas com o Bolsonaro tempos antes dele ser eleito. Aliás, o podcast debate o grade interesse da Inglaterra em uma mudança de governo no Brasil, em especial para um mais afável a dividir os recurso e as riquezas brasileiras com os exploradores do Norte.

Clique aqui e ouça o episódio, que também está em vários agregadores do ramo.

Fico por aqui porque hoje é domingo e começo a me preparar mentalmente para mais uma semana difícil. Enfim, usem máscara, evitem aglomerações e se cuidem!

Drops da pandemia – 02

Bem-vindo e obrigado a você que visita este espaço em busca de informação e opinião em meio a esse caos diário. O Drops da Pandemia vem hoje com risos, raivas, picaretagens, crimes… Chega mais!

Vacina falsa – Chapéu de otário é marreta

Todo dia saem de casa um picareta e um otário…

Lembra o caso lá dos empresários mineiros que tomaram uma vacina de maneira clandestina? Então, a perícia indica que a “vacina” tinha soro fisiológico. 

hahahahahahahaha… 

Eu não consigo parar de rir de uma coisa dessas. Os caras gastaram uma grana preta, imagino, e “imunizaram” 57 pessoas com vacina falsa! hahahahahaha… 

A TV Globo teve acesso ao laudo da perícia que indica que parte do material apreendido é soro fisiológico. Uma cuidadora de idosos que se passou por enfermeira e aplicou as doses foi presa. Todo esse teatro da vacinação clandestina foi arquitetado pela família Lessa, dona de mais de 180 linhas de ônibus na Grande Belo Horizonte. Ou seja, um bando de rico que se acha mais esperto que os outros…

Enfim, essa história é só um exemplo de como esse papo de vacinação a partir da iniciativa privada tem TUDO para dar errado – a dica de leitura de hoje aprofunda esse tema. Só rindo mesmo.

Leia a reportagem do G1 na íntegra

Sem máscaras, distanciamento e testes, pandemia não terá fim

Quero retomar o papo de ontem do Átila Iamarino sobre a importância de outras medidas além da aquisição de vacinas. Porque os governos só falam em vacina, o Congresso quer furar a fila da vacina, os jornais só destacam a vacinação. Mas ninguém lembra que a Inglaterra começou a vacinação com lockdown, assim como Israel e outros países, justamente pra dar tempo das vacinas agirem enquanto os casos não se alastram. Parece óbvio, mas no Brasil atual, as obviedades têm causado estranhamento entre os loucos e os canalhas.

Segundo o cientista, se não houver distanciamento social, testagem em massa e o uso de máscaras, só a vacina não vai conseguir dar conta do coronavírus. Pelo contrário, há o risco cada vez maior de novas cepas do vírus escaparem da vacina, podendo esta ser ineficaz para a variante A ou B, como ocorreu na África do Sul e escrevi ontem

A seguir o primeiro tuíte do fio que o Átila aborda o assunto, citando, inclusive, dados da gripe espanhola de 1918, que não foi combatida à época e seguiu matando gente dois anos depois do início da epidemia. Imagina repetir os erros de um século atrás, mas com muito mais recursos e ciência?

(clique na imagem para ler o fio todo)

Como se tornar um pária internacional em 2 anos? Pergunte ao Jair

O governo Bolsonaro tem trabalhado arduamente para tornar o Brasil um pária internacional, isolado do resto do mundo, como uma republiqueta dessas daí de regime fechado, autocrata, sem diálogo com ninguém, com todos morrendo de fome e doença. A gestão da pandemia morra e deixa morrer quebra recordes a cada dia e leva grande preocupação aos vizinhos sul-americanos. Tanto que praticamente todos os principais países da região estão, nesse momento, com suas fronteiras com o Brasil devidamente fechadas ou, então, com voos brasileiros impedidos de aterrissarem nos aeroportos da região.

Os últimos a aderirem a esse cerco sanitário ao grande irmão do Sul foram a Bolívia e o Chile. O presidente boliviano Luis Arce anunciou pelo Twitter o fechamento temporário de sete dias das fronteiras com o território brasileiro, além de outras medidas para mitigar o espalhamento do vírus naquele país. A preocupação é grande, já que os dois países possuem um grande cruce de pessoas entre os dois países.

Já os chilenos, que vivem um crescimento de casos mesmo com o avançar da vacinação, decidiram fechar por um mês todas as suas fronteiras para estrangeiros e também cidadãos chilenos, o que inclui os brasileiros, que já tinham dificuldades para entrar lá. Apenas o Paraguai mantém a fronteira aberta, ainda que com uma série de restrições e apelos de entidades médicas do país para impedir a entrada de brasileiros. Talvez o dia em que brasileiro nenhum puder pegar seu jatinho e ir pra Miami finalmente esse governo infernal seja derrotado.

Veja mais em matéria de O Globo

Dica de leitura – Vacina para os ricos, morte para os pobres

Acho válido aprofundar a questão da compra de vacinas pela iniciativa privada. A doutora em Antropologia Isabela Kalil publicou nesta quinta (1º) um artigo no Medium evidenciando o fracasso dessa ideia do Congresso, que na prática desvia as vacinas do Programa Nacional de Imunização (PNI) para quem tem dinheiro.

“Um dos maiores riscos da PL948/2021 é a criação de um apartheid sanitário com critérios de vacinação determinados pela iniciativa privada e pelas chamadas leis de mercado, o que representaria ao menos dois séculos de retrocesso em saúde pública”, escreveu a antropóloga.

Não faz sentido reproduzir a ideia do livre mercado em um caos sanitário que o Brasil vive porque, se todos não forem vacinados, não haverá imunidade de rebanho. Logo, mesmo quem estiver vacinado estará correndo perigo.

Mas o Brasil adora produzir jabuticabas, leis absurdas que só existem aqui. Você já ouviu algum país no mundo, mesmo aqueles cuja saúde é privatizada, anunciar uma ideia estapafúrdia dessas? Somente um governo das pseudo elites, capitaneado por um fujão do Exército com discurso de taxista na fila do banco, para produzir uma ideia imbecil dessas.

Volto a qualquer momento com mais drops. Bom feriado!

Drops da pandemia – 01

A insanidade desta pandemia me fez sair das tumbas da escrita e iniciar este projeto. A ver se essa insanidade chamada Brasil nos mantém vivos para irmos adiante. Até lá, vamos de drops da pandemia, um diário rápido com as notícias mais relevantes do dia para você se informar, se aprofundar se quiser, além de um artigo para expandir as ideias. Tudo permeado com comentários deste escriba, que anda puto com muita coisa.

Anvisa aprova vacina da Johnson & Johnson

Bora começar com uma notícia boa.

A Anvisa aprovou nesta quarta-feira (31) o uso emergencial da vacina Janssen, fabricada pela Johnson & Johnson. Agora é aguardar a chegada do imunizante ao Brasil: o governo federal fechou contrato de 38 milhões de doses a serem entregues até o final do ano (quando vão começar a chegar? sabe Deus).

A vantagem dessa vacina é que uma dose basta. Até o momento obtiveram autorização para uso emergencial, além da Janssen, a Coronavac e a Astrazeneca importada pronta da Índia. A da Pfizer (sem previsão de chegada) e a da Astrazeneca, envasada pela Fiocruz a partir de insumos da China, são as que possuem registro definitivo da Anvisa.

Leia aqui a matéria do UOL na íntegra

Ministério da Saúde reduz previsão de entrega de vacinas para abril

Pela enésima vez o Ministério da Saúde reduziu a previsão de entrega de vacinas. Agora, espera-se que sejam distribuídas em abril apenas 25,5 milhões de doses de vacinas, quase a metade do que havia sido previsto há pouco mais de 10 dias. O anúncio foi feito nesta quarta (31) pelo atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, contradizendo o divulgado no dia 19 de março, cuja previsão era de 47,3 milhões de doses para os brasileiros.

De forma inacreditável, Queiroga culpou a revisão das doses a supostos atrasos do Instituto Butantan, colocando na mesma crítica a Fiocruz, esta sim tem liberado menos do que previsto. O ministro ainda jogou na conta das prefeituras a culpa pela falta de kit intubação e eu fico me perguntando pra que serve o governo federal se nunca nada é da alçada deles.

Veja mais na matéria da Folha

Congresso quer quer empresas comprem vacinas com nosso dinheiro

E já começamos a série “títulos que gostaríamos de ver na grande imprensa”. Porque é disso que se trata o projeto defendido pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, para que a iniciativa privada fure a fila do SUS e compre vacinas para si e seus funcionários.

O projeto já parte errado daí, afinal de contas, os grupos prioritários devem ser… adivinha? Priorizados. Mas a insanidade e cara de pau vão além: querem que o dinheiro para a compra de vacinas para a iniciativa privada seja debitado dos impostos que servem para financiar a saúde, educação etc… Ou seja, quem vai pagar no final das contas? Nós. Haja absurdo para aguentar esse país.

Confira mais detalhes na coluna da Mônica Bergamo, na Folha (texto tá aberto)

Butantan identifica nova variante do vírus em Sorocaba

O Instituto Butantan identificou uma nova cepa do coronavírus, semelhante à sul-africana, na cidade de Sorocaba, interior de São Paulo. O sequenciamento do genoma foi feito em parceria com uma rede de alerta para novas variantes.

Em princípio, não há vínculo direto com o país africano, pois o paciente, que está isolado, não tem histórico de viagem para esta localidade. Porém, vale o alerta, já que a variante sul-africana demonstrou o que se chama de “escape vacinal”, ou seja, a vacina que estava sendo aplicada na África do Sul (Astrazeneca) foi considerada ineficaz para essa nova cepa.

E, como o cientista Átila Iamarino tem mencionado exaustivamente, quanto mais o vírus circula, mais variantes surgem, que podem prejudicar a vacinação e nos levar a um ciclo vicioso sem fim, repleto de mortes e prejuízos diversos.

O anúncio da descoberta foi feito na entrevista coletiva do governo do Estado e as informações foram tiradas da coletiva e do @butantanoficial.

Dica de leitura – “Essa conta irá para as Forças Armadas”

Para fechar este primeiro drops da pandemia, aqui vai uma dica de leitura. O discurso que trata que as Forças Armadas estão em conflito com o Bolsonaro roda fácil nos jornalões, porém, não passa de uma falácia. Essa é tese do texto do The Intercept, escrito por Rafael Moro Martins e Leando Demori.

Basicamente, o artigo mostra como é impossível o Exército se descolar do governo Bolsonaro, afinal, há militares lotados em vários cargos do governo federal, inclusive em setores chave, estatais e ministérios. Vale a leitura como contraponto ao que se tem visto por aí.

Imprensa dá voz à farsa de que generais se descolaram de Bolsonaro, mas militares seguem afundados no governo

A frase entre aspas é do nosso queridíssimo milico General Hamilton Mourão, vice-presidente da República, que, em 2019, falou que se o governo falhasse, a conta iria para as Forças Armadas. O áudio com essa frase é muito usado no maravilhoso podcast @medoedeliriobr, que narra a saga de Bolsonaro e sua trupe cloroquiner no comando do Brasil.

Pra onde eu mando a conta, vice-presidente?